“Rock Symphonies”

O novo álbum do compositor Nuno Côrte-Real, em colaboração com a Orquestra Sinfónica de Milão, ‘Rock Symphonies’ foi publicado no dia 13 de outubro, anunciado pela discográfica alemã Solo Music.

‘Rock Symphonies’ é uma coleção de cinco obras sinfónicas, ‘Rock (tribute to Ligeti)’, ‘Concerto Vedras’, ‘Sinfonia Noa Noa’, ‘Todo o Teatro é um muro branco de música’ e ‘Abertura Secondo Novecento’, compostas entre 2001 e 2018.

“O termo ‘sinfonias’ não é aqui utilizado para designar uma forma musical, mas sim no seu sentido original grego de sons que soam simultaneamente e na referência a timbres orquestrais”, esclarece a discográfica acrescentando que “o termo ‘rock’, título da primeira obra apresentada, inclui o cosmos popular do ‘rock and roll’, em que o sentimento enérgico e não o estilo são indomados pelo ouvinte”.

Sobre a peça ‘Rock – Tributo a Ligeti’, foi composta no início da carreira de Côrte-Real, em 2003, “numa altura em que [procurava] libertar-se do estilo académico e da estética ‘obrigatória’ imposta pelas instituições musicais”. “Nesta, como noutras peças do mesmo período, o compositor procura uma linguagem própria, recuperando alguns elementos da sintaxe musical antigos, utilizando recursos musicais proibidos pela erudição vanguardista”. Nesta peça, em concreto, “a ênfase é colocada no elemento rítmico e na utilização da repetição como elemento estrutural”.

“A peça consiste num longo ostinato rítmico sobre uma harmonia estática que privilegia os intervalos consonantes. Apesar do título, esta não é uma peça ao estilo de Ligeti, mas uma celebração festiva deste compositor [húngaro] que foi, na segunda metade do século XX, um notável exemplo de independência do sistema. Por outro lado, a escrita despretensiosa, mínima e pesada, e os ritmos primários e sincopados parecem remeter para o universo da música rock”, prossegue a Solo Music.

O ‘Concerto Vedras’ foi composto em 2001, e é apontado pela discográfica como “uma composição seminal na carreira de Côrte-Real”, que coincide com o fim da estadia do compositor nos Países Baixos, após seis longos anos de estudo.

Esta obra traduz, também, “uma libertação da estética académica e do estilo impessoal ‘imposto’ pelas instituições musicais procurando reafirmar o seu próprio estilo. Uma obra ditada por uma forte carga afetiva e emocional, uma homenagem nostálgica à cidade de Torres Vedras, onde o compositor cresceu”. Esta peça foi estreada na St. Peter’s Episcopal Church, em Nova Iorque.

‘Sinfonia Noa Noa’ (2018) é uma homenagem sinfónica ao pintor francês Paul Gauguin, “figura inspiradora e exemplar para o compositor, um símbolo de liberdade”.

A sinfonia “procura traduzir em música o exuberante universo cromático, o exotismo e o perfume taitiano (o ‘noa noa’) que emana da pintura de Gauguin”. 

A peça ‘Todo o Teatro é um Muro Branco de Música’ é “uma abertura concertante inspirada na última secção do poema ‘Chuva oblíqua’, de Fernando Pessoa”- “O compositor atribui ao clarinete e ao piano uma função concertante pretendendo devolver à música a dimensão humana e afetiva que a arte árida e geométrica das vanguardas havia suprimido”, explica a discográfica.

Em ‘Abertura Secondo Nocento’ (2006), Nuno Côrte-Real “‘viaja’ até à segunda metade do século XX, em todo o seu pluralismo e diversidade”.

Segundo “a explicação académica, trata-se de um tempo dominado pelo absolutismo vanguardista, um tempo em que, com base num sistema de interdições, a perceção auditiva e a emoção estética são suprimidas e a música é vista como uma arte inferior”.

O compositor “rejeita esta visão redutora e propõe-se celebrar este meio século de enorme riqueza e pluralidade, em que conviveram músicas tão diversas e compositores das mais variadas linhas estilísticas”.

“Côrte-Real utiliza criptograficamente, escondidas na partitura, várias técnicas ou referências estilísticas associadas ao Secondo Novecento, como, por exemplo, técnicas seriais ou simples evocações de música cinematográfica, mas recusa todas as proibições que se opõem a uma articulação musical sensível. E o resultado final é uma explosão de êxtase”.

O compositor lisboeta, de 52 anos, foi distinguido com o Prémio de Melhor Obra Clássica da Sociedade Portuguesa de Autores em 2018 e 2019 com, respetivamente, o ciclo de canções ‘Agora tudo muda’ e a ópera ‘Canção do Bandido’.

A sua discografia inclui canções tradicionais portuguesas, música para bailado, música de câmara e sinfónica.

Data de 2012 o seu primeiro álbum monográfico, “Volúpia” (Numérica).

Nuno Côrte-Real, na ópera e no teatro, trabalhou com, entre outros, Michael Hampe, Paulo Matos e Margarida Bettencourt.

Em 2007, apresentou as óperas de câmara ‘A Montanha’ e ‘O Rapaz de Bronze’.

Em 2011, apresentou no Teatro Nacional de São Carlos a ópera ‘Banksters’, com libreto do poeta Vasco Graça Moura e encenação de João Botelho, sob a direção do maestro Cesário Costa.

Como maestro, Nuno Côrte-Real já dirigiu a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra do Norte, a do Algarve, a Filarmonia das Beiras, a Orchestrutopica, a Orquestra Sinfónica I Maestri, a Sinfónica de Londres, o Ensemble Darcos, do qual é fundador e diretor artístico, e a Camerata du Rhône, de Lyon, em França.

A Orchestra Sinfonica di Milano foi fundada em 1993 pelo maestro russo Vladimir Delman, sendo a sua sede o Auditorium di Milano Fondazione Cariplo, inaugurado em 1999, em Milão.