“TIME STANDS STILL” NO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS > 18 MAI

18 maio / sábado / 21h00 – CORO ALTO DA IGREJA DO MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS, LISBOA

entrada gratuita mediante inscrições para brunamoreira.darcos@gmail.com

Ana Quintans / soprano
Nuno Côrte-Real / direção musical

ENSEMBLE DARCOS

M. Ravel (1875 – 1937)

Introdução e Allegro (septeto com harpa)

J. Dowland (1563 – 1626) /

Nuno Côrte-Real (n.1971)

TIME STANDS STILL

I. Mr. Sérgio Azevedo’s Prelude

II. “Come again! sweet Love doth now invite”
III. Mr. António Pinho Vargas Pavan

IV. “Flow, my tears”
V. Mr. Artur Ribeiro’s Air
VI. “Awake, sweet love”
VII. Mr. Mats Lidstrom his Fantasia VIII. “I saw my lady weep”
IX. Sir Christopher Bochmann his atonal transition
X. “Shall I sue”
XI. Mr. Eurico Carrapatoso’s Fugue XII. “Weep you no more, sad fountains”
XIII. Lady Maria João’s Improvisation
XIV. “Time stands still”
XV.”I Know not what tomorrow will bring” (Fernando Pessoa’s last written words on the day of his death)

Quando, em 1904, a Pleyel et Cie. encomendou a Claude Debussy (1862-1918) uma obra para orquestra e harpa, demonstrativa das qualidades da novíssima harpa cromática, a constru- tora de instrumentos rival, a Maison Érard, encomendou a Maurice Ravel (1875-1937) uma obra que permitisse demonstrar as qualidades da harpa de pedal duplo. Escrita em Junho de 1905, a Introduction et allegro viria a estrear a 22 de fevereiro de 1907. Como pretendido, a harpa espraia-se languidamente, num exercício notável de virtuosismo, fielmente acompanhada pelo exotismo musical do contexto melódico e harmónico convocado (a meio termo entre a Shéhérazade e a L’Heure Espagnole, compostas, respetivamente, em 1898 e 1907).

Time Stands Still resulta de uma encomenda do Centro Cultural de Belém para o Festival Dias da Música, em 2019, aí tendo estreado, a 27 de Abril. Sete canções do compositor renascentista inglês John Dowland (†1626) são intercaladas com outros tantos interlúdios instrumentais de Nuno Côrte-Real (n.1971), dedicados a amizades do seu universo pessoal. Como então afirmou “Apesar de já estarmos longe desse período da História, há, porém, uma certa melan- colia nas entrelinhas do nosso tempo que tornam estas canções vivíssimas”. A sobriedade de Dowland resplandece em cada canção, contrastantes entre si, ora melancólicas ora animadas, mas sempre expressivas, baseando-se nas duas danças então em voga, a pavana (lenta) e a galharda. Os interlúdios revelam a pluralidade de Côrte-Real, a inspirada aproximação a universos musicais distintos, numa saborosa simbiose, informal e descomplexada.

Da pureza cristalina da música de John Dowland, Nuno Côrte-Real reflexiona e reflete. Não imita, não distorce. A imagem de um espelho duplo, em que Dowland se vê enclausurado nuns modernos jeans e Côrte-Real num imponente rufo branco plissado, um olhar contemporâneo sobre o antigo. Mas, não se confunda contemporaneidade com modernidade. Ambos autores são modernos, cada um circunscrito a uma contemporaneidade do tempo histórico que habitam.
São ambos musicus poeticus na sua mundividência, na sua evasão da realidade, procurando o infinito, o gesto teatral, volvendo numa espiral de tensões e distensões, numa magnificência singelamente natural, sem subterfúgios supérfluos. Como nos diz Afonso Miranda, “a obra conclui com uma meditação sobre o mistério do tempo, a imobilidade da mudança, a eternidade”. O Tempo está parado.